“Adultos não olham para o céu”

Essa vida é mesmo mágica. E cada vez mais eu tenho certeza disso, do quanto vamos vivendo um dia após o outro, fechados no nosso próprio mundinho, umbigo mesquinho. Fazia muito tempo que eu não prestava atenção na vida, nas sincronicidades, em sinais. Até que conheci o Senhor Jamal semana passada e levei um choque de realidade, um chacoalhão. Hoje não foi diferente e sinto cada vez mais que existe alguma coisa muito maior nessa vida. Chamem de Deus, de energia, do que quiserem. Existe alguém tentando conversar comigo, me provar ou mostrar alguma coisa, existe alguma coisa acontecendo que vai além do meu entendimento. Um nudge, a vida têm me dado nudges.

Hoje resolvi acordar cedo e caminhar até o parque para ler um dos meus livros do curso. Minha cabeça tem rodado com uma monografia que não termina nunca. O dia está bonito e venta muito.
Sentei-me no banco do Chalfont Park, a poucos minutos de casa e abri meu livro sobre estratégia de marketing. Algumas crianças brincavam lá do outro lado, o vento gerava um silêncio branco, cortado apenas pela voz de uma menina que arrastava seus patins na grama:
– Bonita essa borboleta azul na sua nuca.
– Obrigada, querida. Mas ela não é azul, é preta.
A menina, que deveria ter cerca de sete anos de idade, apenas sorriu com a minha resposta e então mudou de assunto.
– O que você está lendo?
– Um livro sobre marketing.
– E o que é isso?
– Coisas que adultos fazem pra você gastar dinheiro um dia.
– Você é adulto?
– Acho que sim…
– Achar não é ser.
– Então talvez eu não seja. E você, é criança?
– Sou. E serei para sempre. 
– E por que?  É ruim ser adulto?
– Adultos não podem chorar e brincar. Adultos não olham para o céu.
Por um segundo eu questionei a afirmação da menina, que parecia tão óbvia. Adultos não olham para o céu. Desviei minha percepção e entendi que a conversa era apenas infantil, como deveria ser. Mais uma criança, certíssima em não querer crescer. Foi então que ela resolveu voltar a brincar, mas antes disso me disse sorrindo:
– Quando eu crescer, vou querer uma borboleta azul igual a sua. 
Foi então que eu não me dei mais ao trabalho de dizer que a borboleta não é azul, porque aquilo me parecia similar demais. Borboletas azuis. Deus, isso sou eu, é a minha vida, borboletas azuis têm um significado imenso para mim. Por que aquela menina insistia que a minha tatuagem era uma borboleta azul? Em uma fração de segundos, cheia de perguntas em um impulso instintivo, eu gritei enquanto ela arrastava os patins na grama:
– Ei, menina, qual teu nome?
Ela se virou, sorriu novamente e disse:
– Angelina.
Meu coração está disparado até agora. A necessidade de perguntar um nome foi a mesma que senti com o Senhor Jamal, uma prova física de existência, uma prova física de que eu não estava alucinando. Se eu não estivesse aberta para esse tipo de sincronicidade, talvez nunca teria entendido a essência destes acontecimentos. E  não entendo o motivo, mas estou disposta a perceber a dimensão de tudo isso. Alguém está tentando me mostrar alguma coisa, me parece muito claro.
Borboletas azuis são extremamente presentes na minha vida, desde que uma lagarta fez um casulo na casa dos meus avós. Eu disse uma vez aqui, em 2007, “Para mais uma vez unir meu passado distante com alguma coisa do presente, que eu só descobrirei no futuro. Como em todos os meus raros encontros com a borboleta azul”. Tive que voltar nesse texto para procurar respostas. Como se eu já soubesse há cinco anos, a borboleta azul vem como um ciclo, ela sempre aparece para mim quando une o passado com o presente. “A menina da borboleta azul” é um dos meus textos mais importantes, pessoalmente, é um auto-retrato da minha parte criança. A borboleta azul é um resquício da minha essência, e quando ela aparece, eu sinto ciclos da vida se interligando. A última vez que vi uma borboleta azul foi pouco antes de mudar toda a minha vida para o Reino Unido.
E adultos não olham para o céu. Muitas vezes olho para o céu e percebo o quanto a gente não o faz quando cresce. Já analisei esse ponto em mim várias vezes, eu era vidrada em olhar para o céu quando criança. Eu deitava no sofá da sala, que ficava embaixo da janela, e passava horas olhando o céu. Eu era a criança que deitava na grama, na areia, eu passava horas inventando formas nas nuvens. Eu fui a criança que guardou um pedaço do céu. E hoje eu me limito às noites claras e ao telescópio.
Sobre Angelina. Nome da minha bisavó. Significado? Mensageiro.
Acho que não preciso entender mais nada, a vida está cada vez mais clara. A borboleta azul, que não existe no hemisfério norte, veio através de um mensageiro, para me mostrar novamente uma intercessão entre o passado e o presente. A minha chuva de sapos. Deixa o passado ir, olhe para o céu. E me sinto novamente abençoada por ainda estar disposta a depositar um pouco de atenção às sincronicidades. Eu prestei atenção aos sinais. O entendimento deixo por conta da minha alma.
E se Angelina, assim como o Senhor Jamal, era real, não saberei dizer mais uma vez. A verdade é que descobri uma coisa importantíssima: a primeira conversa de um anjo sempre começa com um elogio.

Um comentário sobre ““Adultos não olham para o céu”

  1. Priscila disse:

    Senti um arrepio desde o começo do post! E agora penso que realmente, nunca mais olhei pro céu. Não esse olhar pra saber se vai chover, mas aquele olhar de infinito que a gente vê quando olha pro céu de tardezinha, uma coisa tão absurda e angustiante ver o infinito do céu.
    Pena que já anoiteceu. Vou marcar o texto pra amanhã me lembrar.

    Obrigada sempre com seus textos e com sua imensa vontade de compartilhar sua vida conosco, Mi!

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